segunda-feira, 14 de março de 2011

DE QUE LADO PENDURAR?

      Como não sei desenhar – o último cavalo que rabisquei foi chamado de jeep pelo meu sobrinho – e como gosto muito de cores e ainda não desisti de fabricar meus próprios quadros, resolvi pintar mosaicos das mais estranhas e inusitadas formas. À primeira vista, parecem formidáveis intestinos multicoloridos, à espera de mais um erro de mira dos preparados atiradores da OTAN. Justiça seja feita, quadros que fariam boa presença numa Bienal bem liberal.
         Dizem que a verdadeira expressão do artista não está na imagem projetada e sim na idéia implícita que move e comove quem se arrisca a ver e entender suas obras. Vá lá que seja...
         Mas fico curioso por conhecer a intimidade dessa idéia, se é que ela, de fato, existe. Jogando na ala dessa cômoda subjetividade, vou engrossando meu repertório de subversivos triângulos vermelhos, evasivos losangos verdes e impertinentes tubos  amarelos.
         O que são? O que significam? Não sei. Mas precisam significar?...
         A arte sempre teve costas largas e a arte plástica, especialmente, tem um dorso continental para agüentar qualquer tipo de interpretação e aceitação. Por falar em aceitação, apenso, de graça, por pura liberalidade, a gostosa historinha de Moisés e os mandamentos.
         Conta-se que o Criador perguntou aos gregos se queriam mandamentos.
-         O que é isso? Perguntaram.
-         É não roubar, por exemplo.
-         Não – responderam – pois tal mercadoria tem mínimas chances de dar certo por aqui.
O Criador, então, perguntou aos italianos se queriam mandamentos.
-         O que é mandamento? Questionaram os italianos, entre uma garfada e outra.
-         É não cobiçar a mulher do próximo.
-         Não e não! Essa idéia não grassará por aqui.
Perguntou, então, a Moisés, que prontamente, indagou:
-         Quanto custa?
-         É de graça! Disse, tonitroante, o Senhor.
-         Bem, se é de graça, então, manda dez – falou Moisés, contabilizando o bom negócio.
Pego daí para retornar à arte moderna, essa incompreendida.Se e enquanto for de graça, que importa o que significa e que efeitos pode provocar?...
Mas, estranhamente, o apreciador desse tipo de expressão faz questão fechada de pagar por ela. E paga bem. Geralmente, na razão inversa de “sua escorreita compreensibilidade”. Gosto é gosto e não se discute sem cheque (com fundos)...
“Interessante” – é que, normalmente, dizem os boquiabertos intérpretes e críticos frente às obras invulgares, e morre-se sem saber o que o artista quis dizer, exatamente.
Sempre achei muito útil o caso daquela deslumbrada senhora observando e apreciando uma exposição de quadros psicodélicos.
-         Mas que luz, que cores, que movimento, que expressão...! e um estraga-prazer inoportuno quebrou a elocubração da feliz admiradora, informando que ela estava apenas olhando a janela.
Histórias à parte, devo informar que meus quadros não estão à venda e sim disponíveis para brindes, doações, trocas, empréstimos e livres apropriações. É pegar e levar. Mas não me perguntem qual o lado certo. Pendurem do lado que mais aprouver. O perigo será chegar-se em casa, depois de uma pesada segunda-feira, olhar o quadro e achar que a parede está de cabeça para baixo... Se estiver, não dê bola – dê um tapa na lógica e plante uma boa bananeira. Isso resolve? Não sei, só sei que sair da rotina, de vez em quando, é um bom caminho para se pintar o sete e esquecer o resto. Boa Sorte.

Um comentário:

Unknown disse...

Como sempre querido Pacase tens o dom e a intimidade de como transformar a invisibilidade das idéia em palavras e sentimentos tão concretos e singelos...parabéns querido! Maria de Fatima Lipp (Bregolin) abraços