segunda-feira, 14 de março de 2011

SOLIDÃO

      O caso do sujeito que só usava sapatos apertados pelo imenso e único prazer de poder tirá-los, na solidão do lar, depois de uma estafante jornada de trabalho, reflete bem o tamanho e a intensidade dessa incômoda e melancólica sensação.
         Incômoda? Melancólica? Veremos...
         Aquele outro, que sequer tinha uma gravata nova para usar, ou um vinho ordinário para beber, em pleno 26 de dezembro, retrata a caudal dimensão de se estar irremediavelmente sozinho.
         Conheci uma pessoa que vivia atirando pedras para o alto, na esperança de que alguma lhe caísse na cabeça. No dia em que tal ocorresse, saberia, enfim, que não está tão só quanto imagina. Contam-me que esse desafortunado foi, fulminantemente, atingido por um raio, semanas atrás.
         Suponho que agora esteja feliz...
         E todos conhecem as comoventes histórias de solidão dos inveterados catadores de conchas, dos juntadores de gatos brasinos e cães vira-latas. No mesmo bordão, juntam-se os colecionadores de lesmas de jardim e os perseguidores de trevos de quatro folhas. Ah, essa concreta e dilacerante solidão!...
         É preciso alguma ciência e muita arte para administrá-la. Ainda que incomode, será sempre útil inventar maneiras de fugir do sufocante tédio que a vida nos impõe.
         A bem da verdade, não é rigorosamente necessário se estar só para se sentir só. Conheço gente amargando solidão no meio de multidão. Quero crer que a genuína solidão é mais um estado de espírito do que uma situação de fato e de direito. O profético Lupicínio já dizia, que “nada mais solitário do que estar perto dos olhos e longe do coração...”
         No fundo e no raso, todos sabemos que a solidão é (ou pode ser) a grande e inestimável genitora da reflexão. E sobram exemplos de fundamento: - Moisés, Crusoé, Gagarin, George Sand, Teseu, Agripa, Valquíria, Nabuco e o compadre Elesbão. O que seria de nós sem tais reflexões? E teriam brilho, gênio e credibilidade senão através do berço da solidão?...
         Não digo que seja, absolutamente, inevitável estar só para poder perder. Mas, convenhamos, é possível afirmar que quem está só, tem infindáveis chances de pensar. Ou até pensar que pensa...
         No fundo escuro de mi rancho viejo, atirado sobre um catre echo de tientos, aguardo as horas que hão de me trazer o sono. Las horas pasan e yo no me duermo. Nem dorme, na costa do banhado, el têro, que às vezes grita e não sei que lamento o tiaján repete, desde ajá, mui lejos...
         Poesia – solidão – poesia!
         A terra é redonda, gira em torno do Sol, matéria é energia, a Lua não tem luz própria, a água tem moléculas, a gravidade existe, som e vibração...
         Ciência – solidão – ciência!...
         De que maneira se atingiria tal inspiração ou se chegaria a tal conclusão?...
         Sina ou escolha, circunstância ou opção, toda a solidão tem o inefável direito de cobrir-se com o manto da resignação. Mas e certo que tem irrecusável dever de consagrar a criação.
         Flagelo ou vantagem, castigo ou prodígio, solidão é esteira existencial, imponderável, que navega mar a fora no rumo da promissão.
         Mas, enfim, resgatando o conceito mais habitual do tema, devo dizer que a solidão realmente existe e produz visíveis rasgos de dor e invalidez neste nosso vale cheio de lágrimas. Há muita gente que sofre e sofre muito, por estar só. Arriscaria dizer que tem gente que está só, apenas para poder sofrer...
         De todas as histórias de solidão, gosto muito de uma, insolitamente original. Ferdinando, um solitário de caderno, resolveu, uma vez, quebrar a inércia dessa sofreguidão. Sem família, sem amigos, sem parentes, sem conhecidos, sem dependentes e até sem inimigos, desafetos e antipatizantes, decidiu investir na amizade de si mesmo. Então, passou a escrever longas, afetuosas e noticiosas cartas para si próprio. Colocava-as no correio, devidamente detalhadas, endereçadas e seladas. Ao recebê-las de volta, lia-as, com nervosa curiosidade e adolescente expectativa. E respondia-as, religiosamente, com fraternal inspiração. E tantas foram que, um dia, tudo terminou. Mas, é claro, que assim tinha de ser. Imagine que absurdo alguém escrever, indefinidamente, para si mesmo!...
- Que bobagem! Diziam todos. Mas o que o mundo não sabia, porém, é que essa tresloucada ciranda de cartas, aproximara o velho carteiro, habitual circunstante, fiel companheiro que, ainda ontem, emprestou seu braço direito para que Ferdinando não caísse no abismo quando jogava penas ao vento.
           Solidão... quem, afinal, poderá sentí-la para poder amá-la e então perdê-la como penas ao vento, em busca de novo alento?! Quem?...
          

2 comentários:

THANIA disse...

PACASE, APRENDI COM A SOLIDAO, MUITAS COISAS UTEIS E QUE ME DAO ALICERCE HOJE. APRENDI QUE PODEMOS SER FELIZES MESMO SOZINHOS, APRENDI QUE VALE A PENA A SOLIDAO QUANDO SE QUER ESTAR SO , PARA FAZER ESTE PEQUENO ARTIGO QUE FISESTE. APRENDI QUE NA ANSIA DE QUEREMOS SER FELIZES ENTRAMOS ERRADOS NA HORA ERRADA , NUMA RELAÇAO. ENTAO SEJAMOS FELIZES SEMPRE , CURTINDO O HOJE , ANALISANDO E TIRANDO PROVEITO DAS COISAS BOAS DO PASSADO , ASSIM ESTAREMOS CONSTRUINDO NOSSO FUTURO. QUE SEJAS MUITO FELIZ , UM GRANDE ABRAÇO DA AMIGA NOVA NA INTER, THANIA.

Clinica Veterinaria Marisa disse...

Olá Pacase gostari de te testemunhar que por um longo periodo senti muita solidão mesmo estando sercada de pessoas e este estado de espirito que acredito que seja so terminou quando resolvi lutar e me aprosimei principalmente de Deus e acreditar que ele nos fez a sua imagem e semelhança para sermos feliz ,hoje o vasio passou e a alegria esta no meu coração .bj