terça-feira, 17 de maio de 2011

A CRÍTICA

Das histórias de D. Pedrito antiga, gosto muito de uma que conta a passagem de dois compadres, que vinham pela estrada do Ponche Verde, lá pela década de 40, a bordo de um Modelo A, ou coisa que o valha. Lá pelas tantas, disse o que vinha de passageiro, para o que estava no volante:
-         Mas tchê, tu não consegues nem enxergar os buracos!
-         É, e tu enxergas porque não vens manejando!
Tirando o conteúdo anedótico do causo, cabe em qualquer e sob os mais diversos pretextos, uma ilação sobre o teor crítico do incidente.
Vejam que o motorista dava-se por satisfeito, a braços com tarefa tão complicada que era a de guiar. Ao passageiro sobrava tempo e atenção para observar os solavancos. A exaustiva e exclusivista incumbência da pilotagem era ação quase sobre-humana, que ocupava todos os sentidos e exigia heróica destreza. O outro, apenas um passageiro sofrendo, solidariamente, os incômodos percalços da estrada, adensados pela intrepidez do motorista, reclamava, em altos brados e alguns galos na testa, a direção perigosa.
A lição que fica e ficará é a de que a crítica sempre estará mais à mão de quem não tem as mãos ocupadas. E não há mérito nem demérito nisso. É um fato da vida, do mundo e das circunstâncias. E, observem, bem atual e sempre universal. Se transportarmos a história para nossa relação com o Poder Público, por exemplo, veremos que tudo se encaixa. Tantas e tantas vezes reclamamos do piloto dessa mau incauta chamada Administração, quando, na verdade, a máquina é ingovernável, numa estrada tão ruim. Sejamos, no mínimo, tolerantes ou atentos e ativos co-pilotos, ajudando na travessia, em nome da boa chegada e contra os maus torcicolos...

Nenhum comentário: