terça-feira, 17 de maio de 2011

DE QUEM VEM A INFORMAÇÃO?

Convidado a passar um fim de semana na Estância do Junco, Rafael juntou a família e os trapos e se mandou para a fronteira, a bordo de seu sedã, novinho em folha. Aquele carro era coisa bonita de se ver e dirigir...
Não tinha nem mil quilômetros!...
A turma toda cantando, feliz por se ver livre dos tropeços e atropelos da Capital, antegozava os momentos de tranqüila aventura nos pagos distantes. Lá, poderiam andar e correr, livremente, sem a neurose dos assaltos e sem escoliose da angulação urbana. Que bom era ter um amigo assim, que proporcionava a beleza e a limpeza da maravilhosa nostalgia rural, com direito a alegres cavalgadas, divertidas pescarias e suculento churrasco. A vontade de chegar era tanta que, por mais de uma vez, a atenta esposa chamou Rafael no apito, pedindo que não abusasse da velocidade. Os pré-adolescentes, Rafaelzinho, Raul e Ritinha nem brigavam, apenas crivavam os pais de perguntas e indagações, quilômetro a quilômetro.
-         Está muito longe?
-         Que jeito tem o sítio do tio?
-         Lá tem televisão?
-         Tem onça, pai?
-         Não, meu filho. Lá não tem onça, tem cavalo, tem ovelha, tem vaca...
-         A gente pode andar de vaca?
E assim corria a viagem em busca dessa saudável e inesquecível alforria. Depois de cinco horas bem vividas no conforto do sedã estalando de novo, chegaram ao povinho, fartos de asfalto e tráfego.
Grossos pingos de chuva começavam a cair, justo no momento em que, ancorados no Posto do lugar, abasteciam o carro e a si próprios para, enfim, iniciarem a segunda etapa da jornada em busca da felicidade.
Rafael, munido de um detalhado mapa, carinhosamente rabiscado pelo primo, apenas quis confirmar a informação.
-         A saída para o Rincão das Carquejas é por aqui? – perguntou ao frentista.
-         É sim senhor. Vá sempre reto.
E assim foi. A chuva agora era mais forte. Quando entrou na estrada de terra o trote mudou. Uma escorregadela para esquerda, outra para a direita, foi rompendo o descampado, garbosamente, no comando do seu inigualável sedã. Que carro bom!... Tinha custado um sacrifício extra mas estava valendo a pena. Ainda faltavam trinta e tantas prestações mas carro é diretriz de liberdade e isso não tem preço.
E vá chuva! O barro corria solto e já transfigurava a pintura perolizada do carrão.
-         Pai, até parece que a gente tá no rali... – comentou, Raul, vibrando com a aventura.
A coisa não estava bonita mas valeria o sacrifício pelas benesses da chegada. Quando a estrada enfeiou de vez, bem ali no baixo do sangão, Rafael teve a ligeira intuição de que o destino fugia a galope, perigosamente. Um gaúcho emponchado, manejando seu tordilho vaqueano, vinha no sentido contrário, com o chapéu nos olhos, defendendo-se da enxurrada.
-         Por favor, amigo. Pode informar como está a estrada aí para frente?
-         Está buena.
-         Dá para seguir?
-         Eu venho de lá. Vá no mais...
E Rafael foi. Uma curva depois caiu no maior atoleiro. O sedã entranhou-se no barro e não mais se mexeu dali. Patinou, patinou e se enterrou de vez.
-         A roda sumiu, pai!
-         Cala a boca, guri!
-         O que vamos fazer, Fael?
-         Não sei, meu bem. Não sei...
Enquanto resvalava no lado, morto de raiva, tentando salvar o párachoque do sedã novinho, Rafael filosofava, em silêncio, para tentar confortar-se no infortúnio:
-         Quem está sobre quatro rodas jamais deve pedir informações de estrada a quem está sobre quatro patas...
E assim é, no úmido e no seco, hoje e amanhã, aqui e lá. Ou não?...

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