terça-feira, 17 de maio de 2011

A GALINHA

Naquele tempo, pagava consulta médica quem podia. Quem não podia, não podia e estamos conversados.
Seu Aristeu, homem trabalhador e sério, andava passando por dificuldades de bolso e precisou levar a filha para consultar. Dr. Lautério, um médico humanitário, nem perguntou se seu cliente tinha ou não dinheiro para pagar a consulta. Foi logo examinando a paciente, com devoção e ciência. Depois de descobrir o mal, que não era grave, passou a mão em algumas amostras grátis e alcançou ao pai dedicado.
Aristeu se desculpou com o doutor, dizendo que não podia pagar pela consulta mas que, se não levasse a mal, mandaria uma galinha de presente.
O médico disse que não se incomodasse, que não lhe devia nada e que estava tudo bem. Diante da insistência do cliente, resolveu aceitar o regalo. Quando chegou em casa, à tardinha, viu uma galinha branca e gorda que passeava, com garbo e pose, no pátio. Chamou a cozinheira e foi rápido e sumário na ordem. Com a mão direita, fazendo o gesto conhecido, mandou a empregada torcer o pescoço da tipa.
-         Com arroz, doutor?
-         Mas é claro...
No jantar, Dr. Lautério achou que seu Aristeu tinha pago demais pela consulta. A galinha estava um primor – gorda e carnuda.
Dois dias depois, na saída da missa das dez, encontrou Aristeu com a filha, a mulher e um sobrinho. Foi logo abraçando o amigo e agradecendo o belo presente. Aristeu ficou meio sem jeito. Dr. Lautério não cansava de elogiar o galinheiro do cliente. Aristeu, muito honesto, não se sofreu e falou:
-         Pois é, doutor, eu queria me desculpar...
-         Desculpar por quê, vivente?...
-         Pois acontece que ainda não pude mandar a galinha que prometi. Bateu uma peste braba no galinheiro lá de casa e não sei que praga é, mas, não se preocupe que vou cumprir a promessa.
Dr. Lautério, percebendo o constrangimento do amigo, tratou de mudar o assunto e foi se despedindo, com atenção e carinho.
Na volta para casa ia matutando pra saber que galinha tinha comido.
De que vizinho seria? Estava bem boa...!
Quase no portão, topou com dona Romilda, a vizinha da esquina. Conversa vai, conversa vem, don Romilda, sempre muito queixosa da vida, relatou que até sua estimada galinha premiada, que adquirira na última exposição e que atendia pelo nome de Riquinha, tinha sumido inexplicavelmente. Estava inconsolável...
Dr. Lautério então matou a charada. Mas como explicar à dona Romilda o lamentável engano? Melhor seria não explicar. Na primeira oportunidade daria um jeito de comprar uma galinha bem premiada e presentear a vizinha, por conta e ordem da amizade e da vizinhança. Mas para não deixar o assunto sem troco, comentou:
-         Já me disseram que anda muita raposa por aí, dona Romilda.
-         Raposa, doutor?...
-         É. Onde tem galinha tem raposa, dona Romilda.
-         Ah, isso é, sim, doutor...
-         Pois é...

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