terça-feira, 17 de maio de 2011

GUERRA À PAZ

Já teria dito alguém que, enfim, não teremos a terceira guerra e sim a paz mundial. De fato, apesar ou por causa dos enormes e insuspeitos esforços de paz – aquele estudo de plena harmonia, onde tudo medra e tudo cresce, positiva, benéfica e dinamicamente, foi substituída pela pacividade e pela alienação.
A paz de nossos dias, lotando a rica agenda de uma diplomacia tão sofisticada quanto irresponsável e festiva, rebentando e raiando no brilho das medalhas e dos brasões, empanturrada de “heroísmo”, fartando a ilustre cegueira de muitos governantes, tão cantada e festejada pela santa inocência de todos nós, tem sido, isto sim – a faca no peito, a bala no cano, a mão na garganta, a venda nos olhos, a bucha na boca, algemas trancadas, a fagulha sempre vizinhando a palha, a bomba tique-taqueando o tempo, o fantasma atrás da porta, o medo espremendo o coração das pessoas, a corda estirada, maneias, sogas, soiteiras – uma grande loucura, bem montada, livre e solta, tropeando misérias...
A paz que nos tem feito entoar hinos e desfraldar bandeiras é a mesma que feriu o Papa e assassinou Kennedy; é aquela que arrazoa e justifica o colonialismo, a escravidão e as ditaduras; que alimenta e nutre a corrupção em mordomias e falcatruas; que esconde o pão e ostenta as armas; que distribui as drogas e a promiscuidade; paz dos casuísmos, da repressão, do salário minguado da doença e da fome; paz que permite o moralismo enquanto censura a moralidade.
Paz que cala o poeta, que sufoca o canto, que descolore crianças, que ironiza o pranto, que desmente a vida, que sufoca o sábio, que desfaz a lida, que desencanta o truque, que não perdoa o trote, não é paz – é desenlace, é morte. Pois esta anda às clarinadas por aí, pensando que é tudo, quando é nada.
Paz que suja os rios e queima as matas; que incendeia os mares e polui os ares; que dizima as baleias e cerceia os pássaros; que escasseia o bálsamo e multiplica o veneno; que mata os prados e se espaça em desertos.
Até quando? Até onde?
Dia chegará em que será bem vinda e bem chegada a guerra que acabar com essa paz. E quando a explosão humanista bombardear todas as consciências, saberemos que essa guerra chegou. Será a terceira e última...
Será?

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