terça-feira, 17 de maio de 2011

OS LIMITES DA FÉ

Senhor!
Não creio mais do que crêem os olhos dependurados na janela da miséria, nem menos do que crêem as mãos bondosas que do arado ao dorso amado, são o palmo que mede a grandeza do ser. 
Não creio mais do que crêem os donos do suspiro remendeiro de mágoas sem donos, nem menos do que crêem os pés que, na terra, se converteram na possibilidade de mais ver.
Não creio mais do que crêem as vísceras que visceram amor e ódio, nem menos que o peito nidificado para o prazer da vida.
Não creio mais do que crêem os possuídos do segredo de possuir, nem menos do que crêem os patrões da razão do existir.
Não creio mais do que crêem os filhos da dor e do medo, nem menos do que crêem os irmãos da fartura e do contentamento.
Não creio mais do que crêem os que vingaram a morte do silêncio, nem menos do que crêem os que se lavam na luz clara e limpa do entendimento.
Não creio mais do que crêem os aprisionados pela mentira e a dúvida, nem menos do que crêem os que gozam o conforto da verdade.
Não creio mais do que crêem os castigados pela doença, nem menos do que crêem os abençoados pela saúde.
Não creio mais do que crêem os que necessitam escancarar as portas da guerra, nem menos do que os que semeiam a paz e a prosperidade.
Não creio mais do que crêem os afogados do pranto, nem menos do que os espontâneos do riso.
Não creio mais do que crêem os escolhidos da luta, nem menos do que crêem os prometidos da festa.
Não creio mais do que crêem os alucinados que calculam, nem menos do que os apaixonados que poetam.
Não creio mais do que crêem os que hão de vir a morrer, nem menos do que crêem os que acreditam viver eternamente.
Creio, porém, mais do que todas as palavras que meus lábios podem pronunciar e menos do que todo o perdão que meu coração possa carregar.
Por isso, Senhor, crendo mais do que a minha capacidade de dizer e menos do que minha força de sentir, te peço, humildemente, crê em mim – mais do que todo o amor que eu possa repartir e menos do que aquela prece, que um dia, não poderei calar...
Obrigado, Senhor!  

Um comentário:

Krause disse...

Nossa, ke linguagem bem complexa, uma verdadeira obra de arte em literatura. Que habilidade prá organizar pensamentos tão harmônicos e complexos. Coisas dignas do Pacase. Parabéns !